A fotossíntese é um fenómeno inexcedivelmente complexo para transformar a energia luminosa em energia química. Mas por que razão deve o caminho que a luz toma incluir formas químicas? Por que razão não é possível fazer a luz solar propulsionar directamente todos os processos que o organismo requer? Há algumas razões de peso para tal. Primeiro, a energia que é necessária para fazer funcionar os metabolismos celulares deve estar disponível em incrementos que não tenham mais de um décimo da intensidade dos que são fornecidos mesmo por um único fotão solar. Esperar que uma célula use um fotão directamente para sintetizar um açúcar seria mais absurdo do que esperar que um jogador de baseball desviasse balas de uma metralhadora com o taco. Ao invés, a vida concebeu uma aparelhagem extremamente sofisticada para executar a tarefa inicial de apanhar as balas.
Segundo, um fotão não tem paciência. É usá-lo agora ou perdê-lo para sempre. A luz solar não pode ser capturada num frasco e armazenada numa prateleira. Mas a sua energia pode ser usada para aprontar moléculas como os açúcares, que produzirão energia ao combinarem-se com o oxigénio atmosférico. A nossa respiração demonstra-o: ingerimos esse tipo de compostos de carbono "reduzidos" (não oxidados) nos nossos alimentos e inalamos oxigénio e exalamos dióxido de carbono. Isto descreve a actividade metabólica geral, mas existem de facto diversas fases intermédias, todas dependentes da energia fornecida pela oxidação dos compostos de carbono reduzidos que comemos, até chegarem eventualmente a dióxido de carbono. Os açúcares ou outras moléculas intermédias podem ser armazenados na prateleira celular, e o ritmo de "combustão" pode ser controlado. A energia química apresenta assim a vantagem da disponibilidade, oferecendo uma quantidade ajustada onde e quando ela é precisa.
Porque a fotossíntese é um processo tão complexo, e porque a energia derivada dos fotões deve ser convertida em energia química antes de a célula poder fazer uso dela, os pesquisadores que sondam as origens possíveis da vida terrestre convenceram-se de que as primeiras células vivas captavam não luz solar mas sim energia química presente no ambiente.
Fonte do Texto : A Biosfera profunda e quente. Thomas Gold. Via Óptima
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