COMO A LUA PRATICAMENTE NÃO TEM ATMOSFERA que impeça a observação da sua superfície, por meio de um pequeno telescópio, ou mesmo com binóculos, podemos ter uma perspectiva clara e interessante das diferentes características lunares; observando-a simplesmente a olho nu, já se conseguem discernir dois tipos principais de terrenos: as áreas relativamente brilhantes e os planos escuros. Mas, o fascínio pelo desconhecido e o gosto por desbravar novos mundos têm levado o Homem para as mais diversas e ousadas aventuras; pela sua pequena distância à Terra, é o objecto extraterrestre mais "apetecível" de se descobrir.
De entre as características que se podem observar da Terra estão incluídas as crateras, as zonas escuras, chamadas maria (singular, maré) e as zonas claras montanhosas, designadas por terrae, o termo latim para continente. São termos que datam do século XVII, quando os observadores, usando telescópios pouco desenvolvidos, pensavam que estas zonas escuras se tratavam de grandes superfícies de água. Deram-lhes nomes românticos e fantasiosos como Maré Tranquillitatis (Mar da Tranquilidade), Maré Nubium (Mar das Nuvens), Maré Nectaris (Mar do Néctar), Maré Serenitatis (Mar da Serenidade) e Maré Inbrium (Mar dos Banhos). As maria têm uma forma que se assemelha a uma face humana, por vezes chamada "o Homem na Lua". Foi esse o nome que Francis Godwin deu ao seu livro de 1638. Esta face está sempre voltada para nós, uma vez que o movimento de rotação do nosso satélite tem o mesmo período que o de translação em redor da Terra. O lado da Lua que nunca é visível costuma ser designado por "lado escuro" ("dark side") ou "lado de trás" ("far side").
Pôr-da-Terra na Lua
As maria têm muito menos crateras do que as zonas circundantes, o que sugere que não terão estado expostas tanto tempo ao bombardeamento de meteoritos como os continentes e, por isso, devam ser relativamente mais jovens. Por outro lado, apresentam uma forma circular, insinuando que, tal como as crateras, estas depressões tenham sido causadas por impactos. À maior parte das crateras foram atribuídos nomes de figuras famosas da história da Ciência, como Tycho, Copérnico e Ptolomeu. Já as características geográficas no lado negro têm referências modernas, como Apollo, Gagarin e Korolev. Em adição às características familiares no lado visível, a Lua tem também as grandes crateras do pólo sul — Aitken, no lado negro, que tem 2250 km de diâmetro e 12 km de profundidade, o que faz com que seja a maior bacia de impacto do Sistema Solar, e a cratera Maré Orientale no limbo oeste, que é um esplêndido exemplo de uma cratera com anéis múltiplos.
A maré que se encontra virada para a Terra está 2 a 5 km abaixo do nível médio lunar, enquanto os terrae se estendem a vários quilómetros acima do nível médio. Estes são frequentemente designados por terras altas e ocupam cerca de 84% da superfície, sendo os restantes 16% ocupados pelas maria.
A maré que se encontra virada para a Terra está 2 a 5 km abaixo do nível médio lunar, enquanto os terrae se estendem a vários quilómetros acima do nível médio. Estes são frequentemente designados por terras altas e ocupam cerca de 84% da superfície, sendo os restantes 16% ocupados pelas maria.
Características da Lua
A QUEDA DE MICROMETEORITOS pulverizou as superfícies rochosas, produzindo detritos de grão fino chamados regolitos, que são responsáveis pelo baixo albedo da Lua, uma vez que absorvem a maior parte da luz solar que neles incide. O regolito, ou solo lunar, é composto por grãos minerais não consolidados, fragmentos de rochas e uma combinação destes em que se encontram soldados em forma de vidro como resultado dos impactos. São vistos em toda a superfície da Lua, com excepção de paredes inclinadas de crateras e vales. Têm uma espessura de 2 a 8 metros nas maria e podem exceder 15 metros nas terrae, dependendo de quanto tempo a camada de rochas por baixo esteve exposta à queda de meteoros. Ao abrigo dos programas "Apollo" e "Luna" foram trazidos para a Terra 382 kg de rochas e solo lunar, tanto de superfície como de profundidade, dos quais foram estudados três materiais principais da superfície: os regolitos, os maria e as terrae.
Todas as amostras trazidas pelo programa "Apollo" são de rochas ígneas. Não existem espécies metamórficas nem sedimentares, o que sugere que outrora a maior parte da superfície lunar esteve fundida. As rochas lunares são maioritariamente compostas pelos mesmos materiais que são encontrados nos espécimes vulcânicos terrestres. As maria são cobertas de rochas basálticas similares às de cor escura formadas da lava proveniente dos vulcões no Hawai. Os continentes são constituídos por rochas claras chamadas anortositos. Na Terra, a rocha anortosítica é encontrada apenas em cadeias montanhosas muito antigas. É de salientar que a maior parte das espécies que foram recolhidas não eram puros anortositos, mas sim "breccias de impacto", formadas por diferentes tipos de rochas que foram partidas, misturadas e fundidas devido a uma série de impactos de meteoritos. São elas que providenciam a maioria do conhecimento sobre a Lua; ainda hoje, decorridos mais de 30 anos sobre a sua recolha, continuam estes preciosos espécimes a ser estudados, incluindo a sua datação. A maior parte das rochas na superfície da Lua parece ter idades entre 4,6 e 3 Ga.
É uma correspondência acidental com as rochas terrestres, que têm apenas um pouco mais de 3 Ga. Sendo assim, o nosso satélite natural providencia dados sobre a história do Sistema Solar que não se encontram na Terra, o que faz com que este satélite seja muito importante para a descoberta das nossas origens.
É uma correspondência acidental com as rochas terrestres, que têm apenas um pouco mais de 3 Ga. Sendo assim, o nosso satélite natural providencia dados sobre a história do Sistema Solar que não se encontram na Terra, o que faz com que este satélite seja muito importante para a descoberta das nossas origens.
A Lua não tem um campo magnético global, mas algumas das suas rochas exibem magnetismo remanescente, o que indica que possa ter tido um campo magnético global no começo da sua história. Sem atmosfera ou campo magnético, a superfície do planeta está exposta directamente ao vento solar, pelo que, ao longo do tempo, muitos protões ter-se-ão embebido na superfície da Lua. Por isso, as amostras das rochas trazidas pelas missões referidas anteriormente têm provado constituir um grande contributo para o estudo do vento solar. Apesar de praticamente não ter atmosfera, dados recolhidos pela sonda "Clementine" sugerem que no nosso satélite poderá existir gelo nalgumas crateras profundas perto do pólo sul, que se encontram sempre à sombra. Este indício foi confirmado pela missão "Lunar Prospector". Aparentemente existe gelo também na zona polar norte. A crosta da Lua tem cerca de 68 km de espessura média e varia essencialmente entre O km, por baixo do Mar das Crises, até 107 km, a norte da cratera Korolev situada no lado de trás do planeta. Por baixo da crosta existe um manto e, provavelmente, um pequeno núcleo - com mais ou menos 340 km de raio ou 2% da massa do astro; no entanto, o interior da Lua já não está activo. Curiosamente, o centro de massa da Lua está afastado do seu centro geométrico uns 2 km na direcção da Terra. A crosta é também mais fina no lado mais próximo do nosso planeta. Sem a tectónica nem a erosão causada pela atmosfera ou oceanos, as únicas mudanças que ocorrem na superfície da Lua são devidas à queda de meteoritos.
Fonte do Texto : A Origem da Vida - Ilda Dias/Hernâni Maia. Escolar Editora