No século XIX a controvérsia entre catastrofismo e uniformismo atinge um ponto alto. Cuvier (1769-1832) baseia o seu catastrofismo nas mudanças do registo fossilífero que indicam extinções curtas e violentas. O uniformismo (dos autores de lingua inglesa) ou actualismo defende que os processos que actuaram durante a história da Terra são os mesmos que os processos actuais.
Na variante designada por uniformismo substantivo admite-se que a taxa de actividade dos processos possa ter variado no tempo, mas não a sua natureza. O principal defensor é Lyell nos “Princípios da Geologia” (1830). Assim o passado é explicável pelo presente.
A base do uniformismo resulta da aplicação ao passado da observação dos processos em acção; entre estes são os referentes à dinâmica externa os mais fáceis de observar e de quantificar. Assim a observação de que os rios transportam carga sólida permite atribuir à erosão fluvial a geração dos vales; e a quantificação permite estimar a taxa de actuação destes processos.
Assim enquanto Lyell estimava uma idade mínima para a Terra de 300 Milhões de anos, com base na velocidade da sedimentação e na espessura de sedimentos acumulados desde os tempos mais primitivos, Kelvin (1852), com base no cálculo do arrefecimento do Sol, defendia que o Sistema Solar não devia ter mais de 21 Milhões de anos.
O uniformismo foi-se impondo ao longo dos séculos XIX e XX. Lyell teve mesmo uma influência decisiva na elaboração da teoria da evolução por Darwin.
Em 1896 Becquerel descobria a radioactividade; em 1904 Rutherford explicava o calor interno da Terra pela sua origem na radioactividade; em 1937 Holmes iniciava a datação da Terra através dos estudos dos isótopos radioactivos. Esta fonte de calor, insuspeitada por Kelvin, provava que a Terra era muito mais antiga, mesmo do que suponha Lyell.
Sabe-se hoje que o Sistema Solar terá cerca de 4 600 Milhões de anos.
Se o catastrofismo não se impõe ao uniformismo no século XVIII mas renasce, como neo-catastrofismo, no fim do século XX é porque a nossa visão cientifica do mundo se alterou radicalmente entretanto. Assim a Física foi descobrindo as novas dimensões do espaço-entre os quarks e o Cosmos ou seja entre os 10-16 metros e os 1025 metros- e do tempo-o Big-Bang ocorreu há 10 a 15 mil milhões de anos. Há certas grandezas que possuem um tamanho característico entre limites bem definidos com uma pequena margem de variação; obedecem geralmente a uma distribuição estatística gaussiana. Por exemplo toda a espécie humana tem altura entre cerca de 2,5 m e 1 m. E não existem homens do tamanho das baleias nem das moscas.
Mas descobriram-se também outras grandezas que não têm tamanho característico mas podem variar entre longos limites, por vezes dezenas ou centenas de ordens de grandeza. O exemplo clássico é o da distribuição da riqueza: entre as maiores fortunas do Planeta e aqueles que nada têm, a variação é da ordem de 10000000000, ou seja 10 ordens de grandeza.
Alguns exemplos em Ciências da Terra são a energia dos impactos de meteoritos, dos sismos, o tamanho das cheias. A distribuição destas grandezas é do tipo lei de potência ou distribuições fractais. São representadas em diagramas do logaritmo da sua frequência em função do logaritmo da sua dimensão, que conduzem a um gráfico linear. Estima-se por exemplo que um impacto de asteróide com 100m de diâmetro ocorrerá de 1000 em 1000 anos; o de um asteróide com 10 Km será da ordem de 100 Milhões de anos, mas todos os dias caem poeiras meteoríticas com dimensões milimétricas sobre a Terra.
Adaptado de "As Ciências da Natureza - Geologia no Séc. XVIII. António Ribeiro"
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